quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Como aprendi a espalhar amor por aí

Hoje resolvi escrever por um motivo especial. Até algumas horas eu jurava que seria apenas mais um dia qualquer, como foi o resto da semana. 
Sabe quando as pessoas te surpreendem com pequenos gestos e você passa o resto do dia com um sorriso de uma ponta da orelha até a outra? Então...
Algumas horas atrás, depois de ter saído da sala de aula, recebi um recado no Facebook de uma pessoa que conheci (e não vejo) há 3 anos atrás. 
Não se trata de um colega ou amigo, se trata de um professor. Ou melhor, mentor.
Há 3 anos atrás eu viajei para a Califórnia em busca de experiências novas e especiais. Mas minha viagem foi tão maravilhosa que não tenho nem palavras para descrever cada momento que passei em terras hollywoodianas. Excedeu as minhas expectativas.
Esse professor ficou marcado na minha memória. As vezes encontro pessoas durante o caminho da vida que realmente me inspiram. Pessoas além de minha mãe, que me fazem ter vontade e coragem de me tornar cada vez melhor.
Lembro-me de assistir as aulas desse professor atenciosamente. Conversávamos sobre tudo em sala. Éramos uma turma multinacional. De brasileiros, chineses, coreanos, espanhóis, argentinos, chilenos, árabes... enfim, impossível lembrar de tanta gente diferente. 
Ele ensinava coisas importantes como interpretação de textos e filmes em inglês, sentenças, gramática, sintaxe. Mas além disso ele nos estimulou a espalhar o amor. Já viu algum professor ensinando os alunos a amar mais? Para quem estava acostumada com física e matemática, era novidade.
Certo dia ele pediu para que escrevêssemos sobre nossos sonhos. Mas não os sonhos de vida e realização, os sonhos mesmo, daqueles que acontecem enquanto estamos dormimos. 
Ele pediu que escrevêssemos três vezes antes de dormir: Lembrarei do meu sonho, lembrarei do meu sonho, lembrarei do meu sonho. E para quando acordarmos, registrássemos o sonho para discutirmos em sala (caso o aluno se sentisse confortável). 
Então o fiz. Escrevi a frase três vezes e fui deitar a cabeça no travesseiro. Se eu não tivesse anotado logo após acordar, eu certamente não lembraria nem no dia seguinte e nem hoje, o que me passou pela cabeça durante aquela noite:
"Hoje sonhei com várias coisas. Sonhei que sentia saudades de um amigo (que acabara de voltar para o Brasil). Sonhei que estava deitada ao lado de minha mãe. Sonhei que meu irmão ligava expressando o mínimo de sentimentos que ele já pudera expressar por mim. Sonhei com o meu cachorro ficando feliz por eu chegar em casa. Sonhei com minha família de Brasília. Sonhei com um avião. Sonhei com o meu pai."
Acordei feliz! 
Fui a escola. Cada um leu o seu sonho e por fim, o professor "traduzia" o significado de cada símbolo ou acontecimento. 
No outro dia ele pediu para que escrevêssemos sobre os nossos medos e fobias. E que achássemos algum relato bizarro em relação as fobias para comentarmos em classe.
No dia seguinte ele pediu para que cada um comentasse e apresentasse a cultura e algum costume do país de origem do aluno. Me lembro de ter rido bastante nesse dia apresentando o Brasil e ouvindo as histórias dos outros intercambistas.
Por fim, na última semana de minha estadia em solo americano, ele nos levou a um passeio pelos cultos espíritas, mesquitas, igrejas evangélicas e católicas. Cada lugar mais interessante que o outro. Entrávamos no ambiente e logo éramos recebidos de braços abertos pelos responsáveis. 
Então chegou o meu último dia de aula. Fui ao centro da cidade comprar minha bandeirinha da Califórnia para que todos os amigos assinassem. Pedi para todas as pessoas que, de algum jeito, direta ou indiretamente, me fizeram mais feliz em algum momento. Alguns mais, outros menos.
Chegou a vez de pedir para o professor assinar. Expliquei que estava indo embora, agradeci por todos os bons momentos que passamos e pedi para que autografasse minha bandeira. Foi então, na hora do meu abraço de despedida, que soltei um: "Vou sentir saudade das suas aulas malucas".
Por alguns segundos ele parou, sorriu e me respondeu com outra pergunta: "Você sabe porque as minhas aulas são malucas e qual o significado delas?
Na primeira semana eu pedi para que escrevessem sobre seus sonhos, pois não quero que jamais os esqueçam. Gosto de incentivar os meus alunos a sonhar durante o sono e durante a vida. Se não fosse pela realização de meus sonhos, eu não seria uma pessoa tão feliz. No outro dia pedi para que compartilhassem os medos porque não quero que meus alunos pensem que sentem medo sozinhos. Gosto de encorajá-los a enfrentar o que os oprime. Também pedi para que comentassem sobre suas respectivas culturas porque quero que aprendam a respeitar as diferenças. Como você pôde ver, temos valores diferentes mas todos com o mesmo propósito. E o dia de tour pelos ambientes religiosos é porque quero que aprendam a agradecer, respeitar as crenças do próximo e incentivá-los a encontrar suas próprias crenças. Quero que todos aprendam as melhores formas de espalhar amor pelo mundo a fora".
Dois segundos depois eu estava com os olhos cheios de lágrimas. Abracei-o outra vez, pedi uma última foto e agradeci novamente por TUDO o que ele havia me ensinado durante aqueles poucos meses.
Desde então, nunca esqueci de sua existência e de suas palavras. 
As vezes me considero ridícula por sonhar demais, por esperar demais dos outros e acabar me decepcionando. Então eu lembro que, não apenas este professor, mas algumas poucas pessoas que conheci, também acreditam em um mundo melhor, cheio de amor, cheio de paz e de compaixão pelo próximo. Que eles também são humanos e se decepcionam, mas nunca tiram o sorriso do rosto.
Hoje eu percebi que marquei a vida de alguém quando li a mensagem do meu antigo professor. E é nessas horas que eu me pego pensando em como vale a pena ser boba, sonhadora e sensível. Ser eu.
Não existe nada mais gratificante no mundo do que saber que você fez uma pessoa feliz. Nem que seja por um segundo. Eu espalhei amor por aí!

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